Saque consentido
Sérgio Martins
Para astros como Justin Bieber, a internet virou a solução para o problema que ela mesma criou – a crise na venda de discos "físicos". Em certos mercados regionais do Brasil, os músicos buscam a saída pela informalidade (ou pela ilegalidade): associam-se à pirataria. Ao lançar seu segundo disco, no ano passado, o sambista pernambucano João do Morro decidiu não distribuí-lo nas lojas. Autorizou um vendedor de carrocinhas – carrinho que vende CDs piratas – a copiar e vender quantas unidades quisesse. Espalhadas pelos pontos turísticos do Recife, as carrocinhas encarregaram-se de divulgar a música do cantor e compositor. João não ganhou um tostão com o disco (que também é distribuído de graça na internet). Mas o sucesso da tática o tornou muito popular: ele hoje faz cerca de vinte apresentações mensais, a um cachê médio de 12 000 reais. "Graças à pirataria, minhas músicas ficaram conhecidas e meus shows lotam", diz.
Essa estratégia semissuicida não é invenção do pernambucano. Em Belém, vigora uma combinação entre os artistas do tecnobrega, espécie de funk paraense, e os vendedores de CDs piratas. As canções que fazem sucesso nas aparelhagens, equipes de som que tocam tecnobrega, são entregues diretamente ao camelô. Ao artista, resta partir para o mercado de shows. "Ele pode ganhar até 1 600 reais por apresentação", diz o pesquisador Ronaldo Lemos, autor de Tecnobrega – O Pará Reinventando o Negócio da Música. João do Morro, que compõe sua própria música, tem direito de distribuí-la de graça. Na maioria dos casos, porém, esses esquemas informais são francamente ilegais. "Os artistas distribuem predatoriamente a propriedade intelectual de terceiros. Os compositores são lesados", afirma João Augusto, presidente da gravadora Deck-disc.
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CHAMEM A CARROCINHA O sambista João do Morro (à esq.): ele dá o CD aos piratas e fatura nos shows |